Fui ver o rio pela manhã.
O cheiro a maresia brindou a minha chegada.
Um arrepio de prazer percorreu
esta embalagem de sonhos
com que me visto e a que chamam poeta.
Bom dia Rio dos meus poemas.
Como eu queria
ter um amor feito rio,
Como eu queria amar no infinito
e ainda lá estar agora
envolto nos seus beijos e abraços.
É na varanda deste Tejo
que entrego ao Rio as minhas lágrimas.
E peço aos ventos que me afagam
que te levem, tristeza, para bem longe de mim.
Vai-te embora tristeza por favor.
Quero ficar só.
Deixa-me só neste meu rio de poemas.
Deixa-me só como um barco abandonado
Deixa-me só na minha maré vazia
Deixa-me fazer parte de mim finalmente
No meu esteiro de morte assim deitado
Deixa-me, tristeza em forma de gente.
Deixa-me sem piedade, nem dó.
Que a solidão é menos triste
que estar contigo e sentir-me só.
Raúl Ferrão
Nenhum comentário:
Postar um comentário