sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Sexta Na Usina: Poetas da Rede: Raúl Ferrão:RIO DOS MEUS POEMAS:


Fui ver o rio pela manhã.
O cheiro a maresia brindou a minha chegada.
Um arrepio de prazer percorreu

esta embalagem de sonhos 

com que me visto e a que chamam poeta.



Bom dia Rio dos meus poemas.



Como eu queria 

ter um amor feito rio, 

Como eu queria amar no infinito

e ainda lá estar agora

envolto nos seus beijos e abraços.



É na varanda deste Tejo 

que entrego ao Rio as minhas lágrimas.
E peço aos ventos que me afagam
que te levem, tristeza, para bem longe de mim.

Vai-te embora tristeza por favor.
Quero ficar só.
Deixa-me só neste meu rio de poemas.
Deixa-me só como um barco abandonado
Deixa-me só na minha maré vazia
Deixa-me fazer parte de mim finalmente 
No meu esteiro de morte assim deitado

Deixa-me, tristeza em forma de gente.
Deixa-me sem piedade, nem dó.
Que a solidão é menos triste
que estar contigo e sentir-me só.

Raúl Ferrão

Nenhum comentário:

Postar um comentário