"Uma
das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição
escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: "Olhai os lírios do
campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...".
A
professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na
minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei a sentença na
composição que foi muito aplaudida, para minha felicidade suplementar. Repetia
em casa composições, poesias, era escolhida para recitá-las nos auditórios,
coisa que durou até me formar professora primária. Tinha bons ouvintes em casa.
Aplaudiam a filha que tinha "muito jeito pra essas coisas". Na
adolescência fiz muitos sonetos à Augusto dos Anjos, dando um tom missionário,
moralista, com plena aceitação do furor católico que me rodeava. A palavra era
poderosa, podia fazer com ela o que eu quisesse."
Adélia
Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro
de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa.
Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no
Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.
No
ano de 1950 falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a autora escreva seus
primeiros versos. Nessa época conclui o curso ginasial no Ginásio Nossa Senhora
do Sagrado Coração, naquela cidade.
No
ano seguinte inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta,
que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana
Sobrinho em 1955.
Em
1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas, funcionário do
Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos: Eugênio (em 1959), Rubem
(1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).
Antes
do nascimento da última filha, a escritora e o marido iniciam o curso de
Filosofia da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Divinópolis.
Em
1972 morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa ocasião envia carta
e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de
Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade.
"Moça
feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães
Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei.
Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa.Continuava a
escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a
minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever
torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É
isto, é a minha fala."
Em
1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que
publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam "fenomenais". O
poeta envia os originais ao editor daquele que viria a ser Bagagem. No dia 09
de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil chamando a atenção
para o trabalho ainda inédito da escritora.
"Bagagem,
meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta
felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas,
muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre
religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar
amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando."
O
livro é lançado no Rio, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Raquel
Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitscheck,
Affonso Romano de Sant'Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho,
entre outros.
O
ano de 1978 marca o lançamento de O coração disparado que é agraciado com o
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Estréia
em prosa no ano seguinte, com Soltem os cachorros. Com o sucesso de sua
carreira de escritora vê-se obrigada a abandonar o magistério, após 24 anos de
trabalho. Nesse período ensinou no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração,
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, Fundação Geraldo
Corrêa — Hospital São João de Deus, Escola Estadual são Vicente e Escola
Estadual Matias Cyprien, lecionando Educação Religiosa, Moral e Cívica,
Filosofia da Educação, Relações Humanas e Introdução à Filosofia. Sua peça, O
Clarão,um auto de natal escrito em parceria com Lázaro Barreto, é encenada em
Divinópolis.
"O
transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa
e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma
claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta."
Em
1980, dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem de O Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna. No ano seguinte, ainda sob sua direção, o
grupo encenaria A Invasão, de Dias Gomes. Publica Cacos para um vitral. Lucy
Ann Carter apresenta, no Departament of Comparative Literature, da Princeton
University, o primeiro de uma série de estudos universitários sobre a obra de
Adélia Prado.
Em
1981 lança Terra de Santa Cruz.
De
1983 a 1988 exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria
Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, a convite do prefeito
Aristides Salgado dos Santos.
Os
componentes da banda é publicado em 1984.
Participa,
em 1985, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores
brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba, do II Encontro de Intelectuais
pela Soberania dos Povos de Nossa América.
Fernanda
Montenegro estréia, no Teatro Delfim - Rio de Janeiro, em 1987, o espetáculo
Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de livros da autora. A montagem,
sob a direção de Naum Alves de Souza, fez grande sucesso, tendo sido
apresentada em diversos estados brasileiros e, também, nos EUA, Itália e
Portugal.
Apresenta-se,
em 1988, em Nova York, na Semana Brasileira de Poesia, evento promovido pelo
Comitê Internacional pela Poesia. É publicado A faca no peito.
Participa,
em Berlim, Alemanha, do Línea Colorada, um encontro entre escritores
latino-americanos e alemães.
Em
1991 é publicada sua Poesia Reunida.
Volta,
em 1993, à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis,
integrando a equipe de orientação pedagógica na gestão da secretária Teresinha
Costa Rabelo.
Em
1994, após anos de silêncio poético, sem nenhuma palavra, nenhum verso,
ressurge Adélia Prado com o livro O homem da mão seca. Conta a autora que o livro foi iniciado em
1987, mas, depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise
de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê
"a aridez como uma experiência necessária" e que "essa temporada
no deserto" lhe fez bem. Nesse período, segundo afirmou, foi levada a
procurar ajuda de um psiquiatra.
"O
que se passou? Uma desolação, você quer, mas não pode. Contudo, a poesia é
maior que a poeta, e quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno
é maior que o primeiro, o da aridez."
Deus
é personagem principal em sua obra. Ele está em tudo. Não apenas Ele, mas a fé
católica, a reza, a lida cristã.
"Tenho
confissão de fé católica. Minha experiência de fé carrega e inclui esta marca.
Qual a importância da religião? Dá sentido à minha vida, costura minha
experiência, me dá horizonte. Acredito que personagens são álter egos, está
neles a digital do autor. Mas, enquanto literatura, devem ser todos melhores
que o criador para que o livro se justifique a ponto de ser lido pelo seu autor
como um livro de outro. Autobiografias das boas são excelentes ficções."
Estréia,
em 1996, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte, a peça Duas horas da tarde no
Brasil, texto adaptado da obra da autora por Kalluh Araújo e pela filha de
Adélia, Ana Beatriz Prado.
São
lançados Manuscritos de Felipa e Oráculos de maio. Participa, em maio, da série
"O escritor por ele mesmo", no ISM-São Paulo. Em Belo Horizonte é
apresentado, sob a direção de Rui Moreira, O sempre amor, espetáculo de dança
de Teresa Ricco baseado em poemas da escritora.
Adélia
costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com
aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas
recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um
certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.
"Alguns
personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero
estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a
poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento
dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao
de Hong-Kong, só que vivido em português."
Em
2000, estréia o monólogo Dona da casa, em São Paulo, adaptação de José Rubens
Siqueira para Manuscritos de Felipa. A direção é de Georgette Fadel e Élida
Marques interpreta Felipa.
Em
2001, apresenta no Sesi Rio de Janeiro e em outras cidades, sarau onde declama
poesias de seu livro Oráculos de Maio acompanhada por um quarteto de cordas.
OBRAS:
Individuais
POESIA:
-
Bagagem, Imago - 1976
-
O coração disparado, Nova Fronteira - 1978
-
Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira – 1981
-
O pelicano, Rio de Janeiro - 1987
-
A faca no peito, Rocco - 1988
-
Oráculos de maio, Siciliano - 1999
-
A duração do dia, Record - 2010
PROSA:
-
Solte os cachorros, Nova Fronteira - 1979
-
Cacos para um vitral, Nova Fronteira - 1980
-
Os componentes da banda, Nova Fronteira - 1984
-
O homem da mão seca, Siciliano - 1994
-
Manuscritos de Felipa, Siciliano - 1999
-
Filandras, Record - 2001
-
Quero minha mãe - Record - 2005
-
Quando eu era pequena - 2006.
ANTOLOGIAS:
Mulheres
& Mulheres, Nova Fronteira - 1978
Palavra
de Mulher, Fontana - 1979
Contos
Mineiros, Ática - 1984
Poesia
Reunida, Siciliano - 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O
pelicano e A faca no peito).
Antologia
da poesia brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim - 1994.
Prosa
Reunida, Siciliano - 1999
BALÉ
-
A Imagem Refletida - Balé do Teatro Castro Alves - Salvador - Bahia - Direção
Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito por Adélia Prado
especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.
Vem
de antes do sol
A
luz que em tua pupila me desenha.
Aceito
amar-me assim
Refletida
no olhar com que me vês.
Ó
ventura beijar-te,
espelho
que premido não estilhaça
e
mais brilha porque chora
e
choro de amor radia.
(Divinópolis,
1998).
Em
parceria
A
lapinha de Jesus (com Lázaro Barreto) - Vozes - 1969
Caminhos
de solidariedade (com Lya Luft, Marcos Mendonça, et al.) - Gente- 2001.
Traduções
Para
o inglês
-
Adélia Prado: thirteen poems. Tradução de Ellen Watson. Suplemento do The
American Poetry Review, jan/fev 1984.
-
The headlong heart (Poesias de Terra de Santa Cruz, O coração disparado e
Bagagem). Tradução de Ellen Watson, New York, 1988, Livingston University
Press.
-
The alphabet in the park (O alfabeto no parque). Tradução de Ellen Watson, Middletown, Wesleyan University
Press, 1990.
Para
o espanhol:
-
El corazón disparado (O coração disparado). Tradução de Cláudia Schwartez e
Fernando Roy, Buenos Aires, Leviantan, 1994.
-
Bagaje. Tradução de José Francisco Navarro Huamán. México, Universidade
Ibero-Americana no México.
Para
o italiano:
-
Poesie. Antologia em italiano, precedida de estudo do tradutor Goffredo
Feretto. Publicada pela Fratelli Frilli Editori, Gênova.
Participação
em antologias
-
Assis Brasil (org.). A poesia mineira no século XX. Imago, 1998.
-
Hortas, Maria de Lurdes (org.). Palavra de mulher, Fontoura, 1989.
-
"Sem enfeite nenhum". In Prado Adélia et alii. Contos mineiros.
Ática, 1984.
O
trabalho acima foi baseado em dados obtidos na Internet (Jornal da Poesia,
depoimento à Biblioteca Nacional, "As conversas com Deus" -- Luciana
Hidalgo - O Globo), BTCA - A.C.Cardoso, Cadernos de Literatura Brasileira -
Instituto Moreira Salles, entre outros, e em livros da autora.
fonte de origem:
http://www.releituras.com/aprado_bio.asp
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