(Embaixada da Argentina em Ixelles, 26 de
agosto de 1914 – Paris, 12 de fevereiro de 1984) foi um escritor argentino.
Biografia
Filho de argentinos, nasceu na embaixada da Argentina em Ixelles,
distrito de Bruxelas, na Bélgica, e voltou a sua terra natal aos quatro anos de
idade. Seus pais se separaram posteriormente e passou a ser criado pela mãe,
uma tia e uma avó. Passou a maior parte de sua infância em Banfield, na Argentina,
e não era uma criança totalmente feliz, apresentando uma tristeza frequente.
Declararia: "Pasé mi infancia en una bruma de duendes, de elfos, con un
sentido del espacio y del tiempo diferente al de los demás".[1] Cortázar
era uma criança bastante doente e passava muito tempo na cama, lendo livros que
sua mãe selecionava. Muitos de seus contos são autobiográficos, como Bestiario,
Final del juego, Los venenos e La Señorita Cora, entre outros.
Formou-se Professor em Letras em 1935, na "Escuela Normal de
Profesores Mariano Acosta", e naquela época começou a frequentar lutas de
boxe. Em 1938, com uma tiragem de 250 exemplares, editou Presencia, livro de
poemas, sob o pseudônimo "Julio Denis". Lecionou em algumas cidades
do interior do país, foi professor de literatura na "Facultad de Filosofía
y Letras de la Universidad Nacional de Cuyo", mas renunciou ao cargo
quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Empregou-se na Câmara do Livro
em Buenos Aires e realizou alguns trabalhos de tradução.
Em 1951, aos 37 anos, Cortázar, por não concordar com a ditadura na
Argentina, partiu para Paris (França), pois havia recebido uma bolsa do governo
francês para ali estudar por dez meses, e acabou se instalando definitivamente.
Trabalhou durante muitos anos como tradutor da Unesco e viveria em Paris até a
sua morte. Teve uma relação de amizade com os artistas argentinos Julio Silva e
Luis Tomasello, com os quais realizaria vários projetos conjuntos.
Politicamente, o autor também foi um mistério, devido à fragilidade dos rótulos
da época, pois, para a CIA, tratava-se de um perigoso esquerdista a soldo da
KGB, enquanto esta considerava-o um notório agente do imperialismo a soldo da
CIA e perigoso agitador anti-soviético, já que denunciava as prisões em Moscou
dos chamados dissidentes.
Cortázar casou com Aurora Bernárdez en 1953, uma tradutora argentina.
Viviam em París, sob condições econômicas difíceis e surgiu a oportunidade de
traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe para a Universidad de
Puerto Rico. Esse trabalho foi considerado pelos críticos como a melhor
tradução da obra do escritor.
Em 1963 visitou Cuba enviado pela Casa de las Américas, para ser jurado
em um concurso. Foi a época de intensificação do seu fascínio pela política. No
mesmo ano teve um livro traduzido para o inglês. Em 1962, lança Historias de
Cronopios y Famas, e o ano de 1963 marcou o lançamento de Rayuela, que foi seu
grande sucesso e teve cinco mil cópias vendidas no mesmo ano. Em 1959 saiu o
volume Final del Juego. Seu artigo Para Llegar a Lezama Lima foi publicado na
revista "Union", em Havana. Depois desses anos, Cortázar se
comprometeu politicamente na libertação da América Latina sob regimes
ditatoriais.
Em novembro de 1970 viaja ao Chile, onde se solidarizou com o governo
de Salvador Allende. Em 1971, foi "excomungado" por Fidel Castro,
assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do
poeta Heberto Padilla. Apesar de sua desilusão com a atitude de Castro,
continuou acompanhando a situação política da América Latina.
Em 1973, recebeu o Prêmio Médicis por seu Libro de Manuel e destinou
seus direitos à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi membro do
Tribunal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política
na América Latina, en particular as violações dos Direitos Humanos.
Em 1976, viajou para Costa Rica, onde se encontrou com Sergio Ramírez e
Ernesto Cardenal, e fez uma viagem clandestina até Solentiname, na Nicarágua.
Esta viagem o marcaria para sempre e seria o começo de uma série de visitas a
este país.
Em agosto de 1981 sofreu uma hemorragia gástrica. Em 1983, volta a
democracia na Argentina, e Cortázar fez uma última viagem à sua pátria, onde
foi recebido calorosamente por seus admiradores, que o paravam na rua e lhe
pediam autógrafos, em contraste com a indiferença das autoridades nacionais.
Depois de visitar vários amigos, regressou a Paris. Pouco depois lhe foi
outorgada a nacionalidade francesa.
Carol Dunlop, sua última esposa, faleceu em 2 de novembro de 1982, e
Cortázar teve uma profunda depressão. Morreu de leucemia em 1984, sendo
enterrado no Cemitério do Montparnasse, na mesma tumba de Carol. Em sua tumba
se ergue a imagem de um "cronópio", personagem criado pelo
escritor.[2]
Em Buenos Aires, a praça situada na interseção das ruas Serrano e Honduras
leva seu nome. Em 2007 foi dado oficialmente o nome de "Plaza Julio
Cortazar" à pequena praça no extremo ocidental da "Île Saint
Louis", onde ocorre o conto Las Babas del Diablo.
Características
É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo,
mestre do conto curto e da prosa poética, comparável a Jorge Luis Borges e
Edgar Allan Poe. Foi o criador de novelas que inauguraram uma nova forma de
fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos mediante
narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem
autonomia e profundidade psicológica inéditas.
Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que
permite várias leituras orientadas pelo próprio autor.
Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano
Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up foi baseado no conto As
Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).
Obras principais
Presencia, 1938 (sonetos) (Sob o pseudônimo Julio Denis)
La otra orilla, 1945.
Los reyes, 1949 (teatro) (Os Reis)
Bestiario, 1951 (cuentos) (Bestiário, 1986, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira)
Final del juego, 1956 (cuentos) (Final de Jogo)
Las armas secretas, 1959 (cuentos) (As Armas Secretas, 1994, Rio de
Janeiro: José Olympio). Faz parte desse livro o conto Las babas del diablo (As
Babas do Diabo), que inspirou Antonioni para o filme "Blow-up".
Los premios, 1960 (novela) (Os Prêmios, 1983, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira)
Historias de cronopios y de famas, 1962 (misceláneas) (Histórias de
Cronópios e de Famas, 1964, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Valise de
Cronópio, 1974, São Paulo: Perspectiva)
Carta a una señorita en París, 1963
Rayuela, 1963 (novela) (O Jogo da Amarelinha, 1994, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira)
La autopista del Sur, 1964
Todos los fuegos el fuego, 1966 (cuentos) (Todos os Fogos o Fogo, 1994,
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
La vuelta al día en ochenta mundos, 1967 (cuentos).
El perseguidor y otros cuentos, 1967 (cuentos).
Buenos Aires, Buenos Aires, 1967
62/modelo para armar, 1968 (novela) (62/ Modelo para Armar)
Casa tomada, 1969.
Último round, 1969.
Relatos, 1970.
Viaje alrededor de una mesa, 1970.
La isla a mediodía y otros relatos, 1971.
Pameos y meopas, 1971 (poemas).
Prosa del observatorio, 1972 (Prosa do Observatório, 1974, São Paulo:
Perspectiva)
Libro de Manuel, 1973 (novela) (O livro de Manuel, 1984, Rio de
Janeiro: Nova Fronteira)
La casilla de los Morelli, 1973.
Octaedro, 1974 (cuentos) (Octaedro, 1986, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira)
Fantomas contra los vampiros multinacionales, cómic, 1975.
Estrictamente no profesional, 1976.
Alguien que anda por ahí, 1977 (cuentos) (Alguém que anda por aí, 1981,
Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
Territorios, 1979 (cuentos).
Un tal Lucas, 1979 (cuentos) (Um tal Lucas, 1982, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira)
Queremos tanto a Glenda, 1980 (cuentos) (Um dos contos foi publicado no
Brasil, sob o título Orientação dos Gatos, 1981, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira)
Deshoras, 1982 (cuentos) (Fora de Hora, 1984, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira)
Los autonautas de la cosmopista, 1982 (Os Autonautas da Cosmopista) –
Em colaboração com Carol Dunlop, sua companheira.
Nicaragua tan violentamente dulce, 1983 (Nicarágua tão Violentamente
Doce, 1987, São Paulo: Brasiliense)
Silvalandia (baseado em ilustrações de Julio Silva), 1984.
Salvo el crepúsculo, 1984 (poesía).
Divertimento, 1986 (obra póstuma) (Divertimento)
El examen, 1986 (novela, obra póstuma) (O Exame Final, s.d., Rio de
Janeiro: José Olympio)
Diário de Andrés Fava, 1995 (Diário de Andres Fava, s.d., Rio de
Janeiro: José Olympio)
Adiós Robinson y otras piezas breves (teatro), 1995 (Adeus, Robinson e
Outras Peças Curtas, 1997, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
Obra Crítica, editada em 1998, no Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira
Cartas a los Jonquieres 2010
Cronópios, famas e esperanças[editar | editar código-fonte]
O livro Histórias de Cronópios e de Famas foi escrito por Cortázar em
Roma e Paris, no período de 1952 a 1959, mas foi publicado em 1962. Ofereceu
uma espécie de reinvenção do mundo através de seus personagens, os
"cronópios", os "famas" e as "esperanças", que
alcançam sensibilidade e fascínio na medida em que traduzem a psicologia
humana.
Os cronópios, segundo Cortázar, são criaturas verdes e úmidas,
distraídas, e sua força é a poesia. Eles cantam como as cigarras, indiferentes
ao cotidiano, esquecem tudo, são atropelados, choram, perdem o que trazem nos
bolsos e, quando saem em viagem, perdem o trem, chove a cântaros, levam coisas
que não lhes servem.
Os famas, pelo contrário, são organizados e práticos, prudentes, fazem
cálculos e embalsamam sua lembranças; quando fazem uma viagem, mandam alguém na
frente para verificar os preços e a cor dos lençóis.
As esperanças "são sedentárias e deixam-se
viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso ir
vê-las, porque elas não vêm até nós.
Fonte de origem:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Julio_Cort%C3%A1zar
Nenhum comentário:
Postar um comentário