quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana: Sei que choveu à noite:


Sei que choveu à noite. Em cada poça há um brilho [azul e nítido.
Sobre as telhas, os diabinhos invisíveis do vento [escorregam num louco tobogã.
Um mesmo frêmito agita as roupas nos varais e os
[brincos nas orelhas...
Ó ânsia aventureira! Parece que surgem bandeirolas [nos dedos mágicos dos inspetores do tráfego... Ah, [que vontade de desobedecer os sinais!
E mesmo as escolas, onde agora está presa a [meninada, nunca essas escolas rimaram tão bem [com opressivas gaiolas...
Só deveria haver escolas para meninos-poetas, onde
[cada um estudasse com todo o gosto e vontade o que traz na cabeça e não o que está escrito nos
[manuais.
E, se duvidares muito, daqui a pouco sairão voando [todas as gravatas-borboletas, enquanto os seus [donos atônitos aguardam o sinal verde nas esquinas.
[Decerto elas foram em busca de novos ares...
Mas sossega, coração inquieto. Não vês? Sob o azul [cada vez mais azul, a cidade lentamente está zarpando [para um porto fantástico do Oriente.


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