sábado, 14 de maio de 2022

Contos do Sábado na Usina: Artur Azevedo:


Cena cinco 
DONA MARIA, depois ANDRADE 
Dona Maria fica perplexa, de olhos baixos, na atitude de Fedra, quando diz: Juste ciel! qu’ ai je faite aujourd’hui? 
É despertada bruscamente pelo comendador Andrade, que entra com espalhafato. O COMENDADOR (gritando) - Onde está o senhor Jorge? 
DONA MARIA ( consigo) - Um homem zangado! É ele, é o pai da menina! O COMENDADOR - Senhora, pergunto-lhe pelo senhor Jorge! 
DONA MARIA - Está doente... naquela alcova... dorme... 
O COMENDADOR - Já me contaram as façanhas que ele praticou esta noite! (Apanhando o nariz postiço.) Cá está uma prova! 
Atira-o longe. 
DONA MARIA - Desculpe-me essa rapaziada, e não lhe negue a mão da menina. O COMENDADOR - A mão da menina! Que menina? 
DONA MARIA - Sua filha. 
O COMENDADOR - Minha filha? Qual delas? Pois este mariola ainda por cima se atreve a erguer os olhos para uma das filhas do seu patrão! 
DONA MARIA - Do seu patrão? Ah! então não é o senhor Raposo? 
O COMENDADOR - Que Raposo, nem meio Raposo! Eu sou o comendador Andrade, sócio principal da firma Andrade, Gomes & Companhia! - O senhor Jorge está dormindo, disse a senhora. 
DONA MARIA - Sim, senhor. 
O COMENDADOR - Pois bem; quando acordar, diga-lhe que eu aqui estive, e o ponho no olho da rua! 
Que apareça para fazermos as contas! 
DONA MARIA - Atenda, senhor comendador! 
O COMENDADOR - A nada atendo! A casa Andrade, Gomes & Companhia não pode ter empregados que se embriagam e passam a noite no xadrez! Era o que faltava! 
Sai arrebatadamente.
JORGE, DONA MARIA 
Na alcova, Dona Maria sai.
JORGE (Abre um olho, depois o outro, olha em volta de si, certifica-se que está em sua casa, dirige à Dona Maria um sorriso de agradecimento, solta um longo suspiro, e exclama com voz rouca e sumida) - Como eu me diverti!
Cai o pano


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