quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:

 


ANOITECER

 

A luz desmaia num fulgor d’aurora, Diz-nos adeus religiosamente...

E eu que não creio em nada, sou mais crente Do que em menina, um dia, o fui... outrora... Não sei o que em mim ri, o que em mim chora, Tenho bênçãos de amor pra toda a gente!

E a minha alma, sombria e penitente Soluça no infinito desta hora!

Horas tristes que vão ao meu rosário... Ó minha cruz de tão pesado lenho!

Ó meu áspero e intérmino Calvário! E a esta hora tudo em mim revive:

Saudades de saudades que não tenho... Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...

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