MAIS UMA LINHA EM BRANCO
Mais uma linha em branco,
Mais um risco na parede
de uma qualquer viela suja e fria,
mais um dia que nasce, apartado
da vontade de acordar ou de viver.
Rasga-se o corpo perdido, impuro,
ao silêncio engasgado na vergonha da
fome,
no orgulho ferido vendido ao desbarato,
na vida cuspida pelas veias de quem já
foi gente,
de quem… já não sente mais.
Mais uma linha em branco que se esgota
na espera da bênção, na prece muda da
morte,
da despedida dos que matei em vida,
dos que de mim se esqueceram
no pranto já seco de tantas lágrimas
gastas.
Desculpem pais pelos sonhos desfeitos,
nos tentáculos penetrantes do vício,
às mulheres cuja inocência violei e
maltratei,
ao filho que não soube amar,
abandonado,
cego que estava possuído por falsos
deuses e heroínas
que conduziram esta carcaça em braços
ao profundo abismo do meu ser mais
insane e indecente
sombra errante sem futuro, saco já
vazio de quereres
ao sabor de um vento agreste perdido de sentido.
Despeço-me do passado embriagado de
devaneios,
dos dias consumidos em lamúrias fúteis
em delírios consentidos e
inconsequentes,
dilacerando a alma exangue quase fria,
quase morta.
Adeus às drogas que um dia soaram
quentes
e doces como amantes em pleno cío,
às desculpas, todos os dias inventadas
para a vítima que nunca fui,
para o homem que quis ser,
esquecido do que um dia foi esperança,
hoje ténue e amarga lembrança.
autor: Miguel Angelo Teixeira
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