domingo, 3 de julho de 2022

Crônicas De Segunda Na Usina:D'Araújo:O Reino é de Deus, a fome é por nossa conta:




Ainda lembro-me do meu tempo de menino nos velhos moinhos do meu sertão.
Onde nos faltava água alimento e chão.
Enquanto nos velhos palacetes sempre tinha um grande banquete. 
E como nas velhas senzalas, nós também não tínhamos fala e muito menos razão, e os nosso filhos pequenos também nem tinha leite nem pão.
E o bom vigário a proclamar em seus longos sermões nos dizendo que éramos os escolhidos
Para povoar o reino do senhor, este nobre criador fiel e justo com a sua criação.
Mas enquanto  ele mesmo o representante do senhor se esbaldava nas mesas dos doutores.
Enquanto isso nos rios da corrupção que cortava todo sertão, a água só caia no terreno do patrão. E assim muitas décadas se passaram, e agora rouba branco preto mulato pardo e índio, pois todos se acostumaram a se da bem nas costas dos irmãos que passam fome e que muitas vezes nem tem nome. E quando aqui famintos nos falta.
Eles desembarcam estrangeiros pois a fome está no mundo inteiro todos loucos por um pouco de dinheiro. O metal que joga todos no mesmo terreiro, pois hoje em dia tanto faz, Catedral, Salão, Templo ou terreiro, só entra por lá quem poder deixar um pouco de dinheiro.
Enquanto lá no andar de cima todos festejam o milagre do senhor.
Aqui nos porões das senzalas modernas, que todos fazem questão que sejam chamadas de comunidades, e não de favela, ficamos a espera destes bons corações e senhores alheios a nossa existencia ou pela complacencia dos eleitos que no traga o tão esperado chão e pão.
Enquanto issso, vamos todos se engalfinhando tentando pegar carona no elevador para o andar de cima. E nesta guerra declarada os mais desesperados tentam subir pela escada.
Mas lá em cima só vai quem é sorteado. E assim essas almas escolhidas alimentam os desejos daqueles que  ficaram para trás, a esperança de que o generoso Deus tão proclamado.
Da próxima vez olhe pro lado, e ai.
Bem ai, talvez seja escolhido pra descansar no reino dos Céus, lugar este que eu não faço a menor questão de conhecer, pois depois de morrer a míngua nas mãos dos meus próprios irmãos que o senhor criou, eu não quero mimos nem agrado.
Mesmo assim muito obrigado, por me deixar aqui sempre com alguém ao meu lado.

Bem, não prometo ficar calado, pois bens sabes que sempre te direi obrigado, mais nunca vou aceitar cabresto deste mal intencionados.

D'Araújo.

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