domingo, 3 de julho de 2022

Crônicas de Segunda na Usina: AURIDAN DANTAS: OUTRA SAGA DE UM BERADEIRO – PRATO FEITO:


Ê, vida boa era no interior. Cadeiras na calçada, para juntar uma turma e conversar “arizia”. 
Fui trabalhar como dentista na cidade que a minha mãe nasceu, meus avós moraram, meu tio ainda morava e o cunhado do meu irmão era vice-prefeito. Além do padre, do médico, do juiz, do delegado e do prefeito e vereadores, passei a ser tratado como importante e necessário. Logo no primeiro dia, a esposa de um parente de minha mãe me convidou para almoçar na casa dela. 
No interior, a esposa é quem faz o prato do marido e dos convidados. E é por camadas. A farinha vem no final, que é para dar o grau, ou seja, para dar liga. Dessa forma, a senhora fez o prato do marido, e na sequência fez o meu. Não tive tempo de dizer o que queria ou não, pois a coisa foi rápida. Quando vi, já tinha uma montanha na minha frente. 
Conversa vai, conversa vem, fui atacando as beiras do prato. Quando conseguia “desbastar” uma camada, ela dizia: coma mais um pouquinho – parece que não está gostando. E pegue comida de novo no prato. E foi assim por um bom tempo. 
Quando eu já estava prestes a explodir, foi que notei que não tinha conseguido chegar à camada final. Logo a ca- mada do feijão. Fiquei com água na boca, mais não cabia mais nada. Nem água. Porém, num interior que se preza, no final tem a famosa “última pá de cal” – a rapadura. 
Meu amigo, a pressão foi grande para encarar a rapa- dura, porque ela dizia que era da melhor qualidade. Enfrentei a danada, mas passei três dias sem precisar fazer refeições. Hoje, com essa tal de modernidade, quando peço para a minha mulher fazer o meu prato, ela diz: levante a bundinha e venha fazer. E, para fechar com chave de ouro, ainda diz: e não esqueça que tem que lavar o prato. 
Por isso que eu chamo de autoridade máxima. E eu sou doido de reclamar. Sou sócio cartão ouro do clube dos manicacas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário