quinta-feira, 30 de abril de 2020

Poesia De Quinta Na Usina:Cruz Souza: JULIETA DOS SANTOS A IDÉIA AO INFINITO:




À distinta e laureada atrizinha Julieta dos Santos

"...A fama de teu nome, a inveja não consome, o tempo não destrói!...

Dr. Symphronio

Era uma coluna de artistas!...

Ao lado Tasso Medindo as múltiplas conquistas

Co’as amplidões do espaço!...

Seguia-se João Caetano Embuçado da glória no divinal arcano!...

Depois Joaquim Augusto

Altivo, sobranceiro, erguido o nobre busto. Depois Rachel, Favart, Fargueil, a espadanar

Nas crispações homéricas da arte, Constelações azuis por toda a parte!

E em suave ondulação os astros Iam de rastros

Roubar mais luz às rúbidas auroras!...

Quais precursoras

Do mais ingente e mago dos assombros, Do orbe imenso nos calcáreos ombros, Rola um dilúvio, um grande mar de estrelas Que lançam chispas cambiantes, belas!...

Há um estranho amalgamar de cousas Como os segredos funerais das lousas Ou o rebentar de artérias

— Ou o esgarçar de brumas, Negras, cinéreas


— Ou o referver de espumas, Nas longas praias

Alvinitentes, mádidas, sem raias. Do brônzeo espaço,

Das fibras d'aço

Como que desloca-se um pedaço Que vai ruir com trépido sarcasmo Nas obumbradas regiões do pasmo...

— O Invisível

Geme uma música, lânguida, saudosa, Que vai sumir-se na entranha silenciosa Do impassível!

— O Imutável

— O Insondável

La vão cair no seio do incriado. E o bosque irado

A soletrar uns cânticos titânios Lança nos crânios

Aluvião de auras epopéias Tétricas idéias!...

E o pensamento embrenha-se nos mares E vê colares

De níveas pérolas, límpidas, nitentes E vê luzentes

Conchas e búzios e corais, — ondinas Que peregrinas

Aspásias são de lúcida beleza,

De moles formas, desnudadas, brancas Sendo a primesa

Dessas paragens hiemais e francas!...

— Ou quais Frinés A quem aos pés

O mundo em ânsias, reverente adora E chore e chora!!...

Mas a idéia o pensamento insano As asas bate em busca de outro arcano,

E o manto rasga do horizonte eterno Vai ao superno

Ao Criador, ao Menestrel dos mundos! E n'uns arroubos, rábidos, profundos Em luta infinda

— Oh! quer ainda

Quer escalar o templo do impossível, Bem como um raio abrasador, terrível!...

Quer se fartar de maravilhas loucas, Quer ver as bocas

Dos colossais Anteus da eternidade!...
Quer se fartar de luz e divindade E de saber,

Depois jazer

Nas invisíveis dobras do insondável, Bem como um verme, mísero, imprestável!...

— Ou quer ousado Descortinar os crimes do passado E apalpar as gerações dos Gracos

Dos Espartanos E dos Troianos E dos Romanos, Dos Sarracenos E dos Helenos,

E esbarrar nesse montão de ossos Por esses fossos

Tredos, medonhos, sepulcrais e frios Onde sombrios

Andam espíritos de pavor, errantes E vacilantes

Como a luzinha das argênteas lampas, Lentos e lentos através das campas!...

Mas a idéia, o pensamento audaz Quer ainda mais!...

Quer do ribombo do trovão pujante Já n’um esforço adamastório, tredo Embora a medo,

— O atroz segredo

Com que ele faz a terra palpitante!...

E quer dos ventos Dos elementos

Quer do mistério a solução! — Nas trevas Hórridas, sevas,

A gargalhada Ríspida, negra irônica, pesada,

Estruge enfim, da morte legendária, E a idéia vária

Ainda n'isso ousando penetrar, Tenta sondar!...

E em vão, em vão

A mergulhar-se em tanta confusão Não mais compreende

— O que saber pretende!...

Assim, oh! gênio,

Na ofuscadora auréola do proscênio Não sei se és astro, 
se és Esfinge ou mito, Se do infinito

Possuis o encanto, os esplendores grandes,
Ou se dos Andes

Águia tu és, ou és condor divino,

— Ou és cometa de cuja cauda enorme

É   multiforme

Só lágrimas de prata

Ou mesmo se desata

Um vagalhão de palmas, diamantino!!...

Minh’alma oscila e até na fronte sinto

Medonho labirinto,

Estúpida babel,

E vou cair, revel

No pélago sem fim dos nadas materiais!...

E como os racionais

Eu fico a ruminar ainda umas idéias

De erguer-te, o novo Talma

Um trono singular, mas feito de — Odisséias

De brancas alvoradas,

Olímpicas, nevadas,

Dos êxtases magnéticos, nervosos de minh'alma!

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