domingo, 15 de maio de 2022

Domingo na Usina: Biografias: James Augustine Aloysius Joyce:



James Augustine Aloysius Joyce (Terenure, Irlanda, 2 de fevereiro de 1882Zurique, Suíça, 13 de janeiro de 1941) foi um romancista, contista e poeta da Irlanda que viveu boa parte de sua vida expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do século XX. Suas obras mais conhecidas são o volume de contos Dublinenses/Gente de Dublin (1914) e os romances Retrato do Artista Quando Jovem (1916), Ulisses (1922) e Finnegans Wake (1939) - o que se poderia considerar um "cânone joyceano". Também participou dos primórdios do modernismo poético em língua inglesa, sendo considerado por Ezra Pound um dos mais eminentes poetas do imagismo.[1]

Embora Joyce tenha vivido fora de sua ilha irlandesa natal pela maior parte da vida adulta, sua identidade irlandesa foram essenciais para sua obra e fornecem-lhe toda a ambientação e muito da temática de sua obra. Seu universo ficcional enraíza-se fortemente em Dublin e reflete sua vida familiar e eventos, amizades e inimizades dos tempos de escola e faculdade. Desta forma, ele é ao mesmo tempo um dos mais cosmopolitas e um dos mais particularistas dos autores modernistas de língua inglesa.
Vida:
Dublin:


Dublin à época do nascimento de James Joyce na década de 1880

James Augustine Aloysius Joyce nasceu em 2 de fevereiro de 1882, apenas uma semana depois de sua contemporânea Virginia Woolf, o mais velho dos dez filhos de John Stanislaus Joyce (1849-1931), na casa de seus avós paternos no número 44 da Brighton Square, situada na hoje extinta comensalidade de Terenure, então uma localidade predominantemente rural das proximidades da Dublin e desde 1958 incorporada ao subúrbio da capital irlandesa, à época de seu nascimento membro da diocese de Dublin e território do governo britânico no Domínio da Ilha da Irlanda, membro integrante do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, hoje República da Irlanda. Com apenas alguns meses de vida, perto do natal de 1882, se mudou com a família de Terenure para uma fazenda perto de Rathgar, uma municipalidade existente a partir de 1862 e desde a década de 1930 incorporada ao Condado de Dublin, onde viveu por boa parte de sua infância. De típica família católica de Munster da qual seus pais eram originados, Joyce foi batizado de acordo com os ritos de Roma na Igreja de Saint Joseph (em português, São José), uma tradicional igreja católica de Harold's Cross, Terenure, em 5 de fevereiro daquele ano, pelo padre John O'Mulloy. Seus padrinhos foram Philip e Ellen McCann, um casal recém-casado de vizinhos de seus pais. James teve nove irmãos caçulas sobreviventes a infância, John Stanislaus (1884-1955), Charles "Charlie" Patrick (1886-1947), George Alfred (1888-1902), que faleceu aos quatorze anos vítima de febre tifoide, Eillen (1889-1963), Eva May (1891-1961), Florence (1892-1977), e Mabel Josephine (1893-1902) que, aos nove anos, também morreu de febre tifoide.

A família de seu pai, originalmente de Fermoy, Condado de Cork, ao sul da ilha irlandesa, fora proprietária de pequenos negócios na área de sal e limão. Tanto o pai como o avô paterno de Joyce, este também chamado James Augustine (1811-1866), casaram no seio de famílias ricas, embora o suposto ancestral da família Joyce, Seán Mór Seoighe (que teria vivido na primeira metade do século XVII) tivesse sido um pedreiro de Connemara.[2] ou sequer existido de fato.

No outono de 1887, quando James tinha cinco anos, seu pai foi nomeado coletor de impostos na municipalidade de Bray pela Dublin Corporation e ele e sua família mudaram-se de Rathgar para o povoado homônimo, uma localidade litorânea e apenas parcialmente urbanizada distando cerca de vinte quilômetros ao sul de Dublin, entidade distrital do Condado de Wicklow. Com a promoção de seu pai, o rendimento dos Joyce aumentou continuadamente, garantindo uma melhor qualidade de vida à James e seus irmãos caçulas. Por volta dessa época o autor foi atacado por um cão de rua perto de uma praia em Bray, o que gerou nele uma cinofobia (fobia de cães) que resistiu até o final de sua vida. Também sofria de brontofobia (fobia de raios), pois uma tia materna supersticiosa, de nome Elizabeth (esposa de seu tio John Murray), tinha descrito trovoadas a ele em sua primeira infância como um inquestionável "sinal da ira de Deus".[3]

O autor começou sua educação formal aos seis anos, quando começou a frequentar o Clongowes Wood College, para o qual foi aceito no final da primavera de 1888, um internato católico jesuíta particular de alto padrão no povoado de Clane, no condado vizinho a Wicklow, Kildare.


James Joyce aos seis anos, na época de sua admissão no Clongowes Wood College em Clane, Condado de Kildare

Em 1891, James escreveu seu primeiro poema que se tem registro, Et Tu Healy, sobre a morte do líder nacionalista irlandês Charles Stewart Parnell (1846-1891). Seu pai o fez imprimir o poema e até mandou uma cópia para a integrar a santa biblioteca do Vaticano, dedicada ao Papa Leão XIII e a São Patrício, padroeiro da Irlanda.

No princípio do verão do mesmo ano, seu pai teve seus rendimentos na Dublin Corporation cortados pela metade, e em novembro de 1891, devido a dividas crescentes não honradas, John Stanislaus Joyce abriu falência junto da Câmera Real de Finanças da Irlanda. Em junho de 1892, James completou seu quarto ano na Clongowes Wood College, mas não pude renovar sua matrícula para o ano letivo de 1892-93 pois seu pai não podia mais arcar com tal despesa (de 20 libras esterlinas anuais) e teve de sair do internato. Em março de 1893, John Stanislaus foi demitido de seu emprego na Dublin Corporation, e no mesmo período, requeriu uma pensão mensal custeada pela Prefeitura de Dublin, que, a partir do outono daquele ano, se tornou a única fonte de renda da família Joyce, muito aquém do nível alcançado apenas alguns anos antes, quando John foi admitido na Dublin Corporation. Eles tiveram de deixar a casa em Bray (se estabelecendo em uma residência bem mais simples em Milltown, Dublin) e assim começou uma descida rumo à pobreza para a família de James, principalmente devido ao consumo de álcool cada vez mais desregrado de seu pai e sua inaptidão financeira em geral. John Joyce foi o modelo para o caráter de Simon Dedalus no Retrato do Artista Quando Jovem e Ulisses, assim como do tio do narrador em diversos contos de Dublinenses.

Após deixar Clongowes, Joyce começou a estudar com sua mãe em casa e por um breve tempo, entre o período letivo de 1894-95, frequentou a Christian Brothers Prime School, uma escola primária franciscana beneficente na Richmond North Street, em uma pobre área a oeste de Dublin, nas cercarias de Milltown, antes que seu pai conseguisse uma vaga (e uma bolsa integral) para ele estudar em outra instituição educacional religiosa, o Belvedere College, um colégio jesuíta bem mais conceituado a partir de setembro de 1895. A oferta foi feita, ao menos em parte, na esperança de que se demonstrasse que ele tinha uma vocação e se juntaria à Companhia de Jesus. Joyce, porém, rejeitou o catolicismo aos dezesseis; apesar disso, a filosofia de Tomás de Aquino permaneceria uma de suas fortes influências por toda a sua vida.

Ele se matriculou no University College Dublin em 1898. Estudou línguas modernas, especificamente inglês, francês e italiano. Também envolveu-se com os círculos teatrais e literários da cidade. Sua resenha do Novo Drama de Henrik Ibsen foi publicada em 1900 pela Forthnightly Review e resultou numa carta de agradecimento pelo próprio dramaturgo norueguês. Joyce escreveu alguns outros artigos e pelo menos duas peças (uma delas intitulada A Brilliant Career, "Uma Carreira Brilhante"; ambas desde então se perderam) durante este período. Muitas das suas amizades do University College aparecem como personagens nos livros de Joyce.
1902-4: Anos decisivos[editar | editar código-fonte]

Joyce foi a Paris pela primeira vez em 1902 para estudar medicina (à época, havia também um efervescente movimento artístico em Montparnasse e Montmartre). Em 1903, retorna à Irlanda, pois sua mãe morria de câncer. Busca manter-se como jornalista e professor particular. Em janeiro do ano seguinte, escreve Um Retrato do Artista, um ensaio-narrativa sobre estética, em um dia, mas a obra é recusada pela revista livre-pensante Dana. Em seu vigésimo-segundo aniversário, decide revisar a história e transformá-la num romance que ele planejava chamar Stephen Hero (Stephen Herói). No mesmo ano, publica seu primeiro trabalho na idade adulta: a sátira desaforada O Santo Ofício, na qual proclamava-se superior a muitos membros proeminentes da Renascença Céltica e afirma sua herança linguística inglesa.

Ainda em 1904 ele conheceu Nora Barnacle, uma jovem do Condado de Galway, que trabalhava como camareira e viria a ser sua companheira por toda a vida. Joyce escolheu o dia 16 de junho para ser imortalizado em sua obra Ulisses porque foi nesse dia em que fez sexo pela primeira vez com Nora, à época uma jovem virgem de vinte anos, apesar de a imprensa irlandesa publicar que nesse dia eles "caminharam juntos" pela primeira vez. Na verdade, Nora teve medo de completar o coito e o masturbou "com os olhos de uma santa", como Joyce relatou em uma carta em que relembrou o acontecido.[4]

Joyce ainda permanece em Dublin por um tempo, bebendo pouco em determinado tempo. Vai morar com o estudante de medicina Oliver St. John Gogarty, que serviu de base para a personagem Buck Mulligan em Ulisses. Depois de dormir por seis noites na Torre Martello, de Gogarty, ele sai após ambos discutirem, embebeda-se em um bordel e envolve-se numa briga, da qual é resgatado por Alfred Hunter, um conhecido de seu pai; Hunter, um judeu irlandês, fornece o modelo para Leopold Bloom, o herói de Ulisses.
Trieste[editar | editar código-fonte]

Pouco depois, ele foge com Nora. O casal parte em exílio auto-imposto, indo primeiro para Pula (hoje na Croácia) e depois Trieste (Itália), ambas então no Império Austro-Húngaro, para ensinar inglês na escola Berlitz. Um de seus alunos triestinos foi Ettore Schmitz; eles se conheceram em 1907, e por longo tempo foram amigos e críticos mútuos. Joyce passou a maior parte das décadas seguintes no continente. Aí nasceriam seus filhos Giorgio (1905) e Lucia (1907; seu nome pronuncia-se à italiana, como Lutchía).

Joyce publica, em 1907, Música de Câmara (Chamber Music) (batizada, segundo ele afirmou, a partir do som de urina num penico, chamber pot) uma antologia de 36 poemas líricos curtos. A obra, inspirada na poesia do período elisabetano (i.e. autores como William Shakespeare), levou à sua inclusão na Antologia Imagista, editada por Ezra Pound, que seria um defensor de Joyce por mais de uma década.

Em visitas a Dublin, abre o primeiro cinema da cidade, o Volta, em 1909, mas fracassa; depois, em 1912, desentende-se com um editor sobre sua nova obra, e publica contra ele, no mesmo ano, Gás de um Bico (Gas from a Burner).

A obra que Joyce queria fazer sair em sua cidade natal era Dublinenses, uma série de quinze contos sobre a cidade e a vida de seus habitantes. Os contos são uma análise penetrante da estagnação e paralisia da sociedade de Dublin. Incorporam epifanias, uma palavra usada particularmente por Joyce, que para ele significava uma súbita consciência da "alma" de algo.

Apesar de seu interesse por teatro desde a juventude, Joyce publicou apenas uma peça, Exilados, iniciada em Trieste logo após a erupção da Primeira Guerra Mundial e publicada em 1918. Um estudo da relação marido-mulher, a peça conecta-se com a obra anterior "Os Mortos" (o último conto dos Dublinenses) e com a posterior Ulisses.

Esta também foi iniciada na cidade italiana em 1914, e ainda levaria muitos anos para ser completada e publicada. Porém, começada a guerra, a permanência dos Joyce em território austro-húngaro se torna impossível, já que eram cidadãos britânicos e, portanto, inimigos. Assim, em 1915, Joyce e Nora se mudam para a neutra Suíça; após breves estadas em outras cidades, se estabelecem em Zurique.
Zurique[editar | editar código-fonte]

Eventos importantes da primeira estadia suíça de Joyce são a publicação de Exilados, a continuidade da composição de Ulisses, a primeira crise de iridite, que iria piorando sua visão ao longo das décadas, e a publicação de seu primeiro romance, Retrato do Artista Quando Jovem.

O Retrato é uma recriação completa do romance abandonado "Stephen Herói". Autobiográfico em larga medida, o romance mostra a obtenção de maturidade e autoconsciência de um jovem inteligente. O protagonista é Stephen Dedalus, a representação joyciana de si mesmo. Neste romance, é possível vislumbrar técnicas posteriores do escritor, no uso do monólogo interior e na maior preocupação com o psíquico em relação à realidade externa. Além disso, a linguagem se desenvolve ao longo do livro, conforme o personagem cresce, amadurece e torna-se capaz de narrar seu mundo de uma maneira mais sofisticada.
Paris[editar | editar código-fonte]

Fim da a guerra, Joyce retorna a Paris em 1920 onde, exceto por duas visitas à Irlanda, permaneceu pelos vinte anos seguintes. É morando na Cidade-Luz que Joyce sofre diversas operações nos olhos a partir de 1924, conclui suas duas maiores obras, obtendo amplo reconhecimento pelo Ulisses e reações diversas pelo Finnegans Wake, e torna-se uma referência para os modernistas de língua inglesa, especialmente jovens irlandeses como Samuel Beckett. É também durante este período, em 1931, que James e Nora se casam, em Londres.
Poesia[editar | editar código-fonte]

Seus primeiros poemas (Música de Câmara, 1907), líricos, de influência simbolista e feitos para serem letras de música, continham, no entanto uma visualidade e objetividade que os aproximavam do, posterior, imagismo de Ezra Pound, além do uso de arcaísmos combinados a alguns neologismos. Joyce publicará, em 1927, seu segundo livro de poesia, Pomas, um Tostão Cada, próximo da radicalidade das suas mais ousadas obras em prosa. Escreve também Ecce Puer, um poema escrito em 1932, sobre dois eventos próximos, a morte de seu pai e o nascimento de seu neto. Publica-os, juntamente com a demais obra poética, em Collected Poems (Poesia reunida), em 1936. Apesar de ser autor de um trabalho muito elogiado por poetas como o próprio Pound, que o considerava um brilhante inovador do ritmo, Joyce se considerava um poeta frustrado.
Ulisses[editar | editar código-fonte]
História inicial da publicação[editar | editar código-fonte]


A Ponte Half Penny, em Dublin.

Em 1906, enquanto terminava Dublinenses, Joyce considerou adicionar outro conto, sobre um negociante de anúncios judeu chamado Leopold Bloom sob o título Ulisses. A história não foi escrita, mas a ideia permaneceu e, em 1914, Joyce começou a trabalhar num romance usando tanto este título quanto a premissa básica, tendo-o completo em outubro de 1921.




fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/James_Joyce

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