quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa: I:

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Quando eu não te tinha Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo... 
Agora amo a Natureza Como um monge calmo à Virgem Maria, Religiosamente, 
a meu modo, como dantes, Mas de outra maneira mais comovida e próxima. 
Vejo melhor os rios quando vou contigo Pelos campos até à beira dos rios; 
Sentado a teu lado reparando nas nuvens Reparo nelas melhor... 
Tu não me tiraste a Natureza... Tu não me mudaste a Natureza... 
Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim. Por tu existires vejo-a melhor, 
mas a mesma, Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, 
Por tu me escolheres para te ter e te amar, Os meus olhos fitaram-na 
mais demoradamente Sobre todas as cousas. 
 Não me arrependo do que fui outrora Porque ainda o sou. 
Só me arrependo de outrora te não ter amado.

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