quarta-feira, 5 de agosto de 2020

poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis: Potira II:


Já da férvida luta os ais e os gritos Extintos eram. Nos baixéis ligeiros Os tamoios incólumes embarcam; Ferem co’os remos as serenas ondas Até surgirem na remota aldeia. Atrás ficava, lutuosa e triste, A nascente cidade brasileira,2 Do inopinado assalto espavorida, Ao céu mandando em coro inúteis vozes. Vinha já perto rareando a noite, Alva aurora, que à vida acorda as selvas, Quando a aldeia surgiu aos olhos torvos Da expedição noturna. À praia saltam Os vencedores em tropel; transportam Às cabanas despojos e vencidos, E, da vigília fatigados, buscam Na curva leve rede amigo sono, Exceto o chefe. Oh! esse não dormira Longas noites, se a troco da vitória Precisas fossem. Traz consigo o prêmio, O desejado prêmio. Desmaiada Conduz nos braços trêmulos a moça Que renegou Tupã,3e as velhas crenças Lavou nas águas do batismo santo. Na rede ornada de amarelas penas Brandamente a depõe. Leve tecido Da cativa gentil as formas cobre; Veste-as de mais a sombra do crepúsculo, Sombra que a tíbia luz da alva nascente De todo não rompeu. Inquieto sangue 
 3 Nas veias ferve do índio. Os olhos luzem De concentrada raiva triunfante. Amor talvez lhes lança um leve toque De ternura, ou já sôfrego desejo; Amor, como ele, aspérrimo e selvagem, Que outro não sente o herói. 

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