sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Contos do Sábado na Usina: Humberto de Campos: A PROMESSA I:


Foi um alvoroço na vila quando se soube que alguns rapazes do lugar haviam sido sorteados para o Exército. Há meses, andara por lá, tomando nota dos nomes, um capitão, que levara o endereço de todos; e ninguém se lembrava mais dele, nem da sua farda, quando chegou aquela notícia, alarmando as mães, afligindo as noivas, mas entusiasmando, ao mesmo tempo, a mocidade vigorosa da terra, atingida pela convocação. 
- No tempo do Paraguai - diziam os velhos, cachimbando monotonamente à sombra fresca das latadas, - o remédio era o mato. Ou, então, passar o facão na mão direita e cortar uns dois dedos para não puxar o gatilho. 
E enumeravam-se os que, por esse modo, haviam fugido ao recrutamento: 
- Foi assim que escaparam o Bernardo Viúvo, o Joaquim André, o defunto Casimiro, o defunto Rogério e o falecido Manuel Simeão, pai de Sotero Boa-Vista. 
A contribuição humana lançada, de chofre, sobre a vila do Araçá, era, porém, de molde a não permitir deserções. Nada menos de oito rapazes tinham sido chamados ao serviço das armas, para o qual todos se apresentaram sem temor ou constrangimento, antes com alegria, com vivacidade arrogante, como se esperassem de há muito aquele apelo ao seu brio patriótico. Para festejar o acontecimento, foi formada, na véspera da partida dos conscritos, uma passeata, que percorreu as quatro ruas do lugarejo, puxada por uma banda de música. Oradores fizeram -se ouvir, concitando aqueles conterrâneos à prática de atos heróicos, elevando o nome da sua vila natal na disciplina dos quartéis e nos campos de batalha. E, na manhã seguinte, metidos na sua melhor roupa de cassineta ou de brim, montando os melhores cavalos do município e acompanhados por numerosos cavaleiros amigos, os rapazes partiram a galope, afim de tomar o trem dezoito quilômetros adiante, com destino à capital.

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