quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Primeiras trovas Burlescas: —11 —:

 


Em feia noite como esta

Enchendo o ar de pavor!

Oiço, oh! oiço entre os meus prantos

Alem dos mares os cantos

Das minhas aves de amor!

Oh nuvem da madrugada,

Oh viração do arrebol,

Leva meu corpo á morada

D'aquella terra do sol!

Morto embora nas cadeias

Vai poisal-o nas areias

D'aquelles plainos d'alem,

Onde me chiarem gemidos,

Pobres ais, prantos sentidos,

Na sepultura que tem 1

Escravo—não, inda vivo,

Inda espero a morte ali;

Sou livre embora captivo,

Sou livre, inda não morri!

Meu coração bate ainda

N'esse bater que não finda;

Sou homem—Deus o dirá!

D'este corpo desgraçado

Meu espirito soltado

Não partiu—ficou-me lá!

São Paulo—1850.

NOTA.

0 Esta bella producção foi-nos dada pelo seu il-

Iustre autor o Exm. Snr. Dr. José Bonifácio de Andrada

e Silva, publicamol-a na frente do nosso obscuro

volume para nos servir de Abracadabra, nos mares

tempestuosos das censuras, e nas horridas ambages

do sórdido egoísmo dos monopolistas.

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