terça-feira, 29 de setembro de 2020

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Isabel Bastos Nunes:

 


Abandonei-me ao vento

Fechei os olhos

Abandonei-me ao vento

Quis que a noite viesse

Que a sombra descesse

E com ela levasse

Os mistérios do meu corpo.

Docemente

Me entrego nessa dádiva

Misteriosa de espera e magia

Deixando-me abraçar

Entre o meu querer e sentir

Eco das minhas palavras e memórias

No abandono do meu desejo.

Abandonei-me ao vento

Sem medo da descoberta desses segredos

De alma aberta à mercê das lembranças

Que o tempo não apaga

Mas desvenda e converte em emoção.

Abandonei-me ao vento

Luz mansa e dorida que adoça o meu rosto

Fecho os olhos e deixo-me levar

Ao encontro de amarguras antigas

Na boca um travo salgado de mar

Na alma uma esperança vencida

Nos lábios o sabor de lágrimas

Abandonei-me ao vento

Depois não serei mais nada

Apenas um passado recente

Não haverá rasto nem cheiro

Nem sonhos, nem beijos

Nem a sorte nem retorno

Porque o vento tudo me levou.

Isabel Bastos Nunes

25/09/20

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