domingo, 25 de julho de 2021

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: CRÔNICA DO COTIDIANO – MEU VELHO FUSCA:


Eita, fusca velho de guerra. É um carro pra toda obra. Quem nunca teve um, pelo menos tem um parente ou amigo que teve ou tem. 
O meu primeiro carro foi um fusca, e era possante: de bom, tinha o motor 1.600, volante esportivo e pneus largos. O resto? Era o resto (literalmente). Começando pela cor: amarelo queimado. Certamente, na hora de comprar, fui enrolado no que se refere à cor. Tinha ferrugem para todo lado. Em dia de chuva, era melhor ficar do lado de fora do que andar nele. 
Dei carona a um amigo, após a pelada de futsal do sábado à tarde que tinha no Campus Universitário, e estava chovendo. Na primeira poça d’água, tomamos uma “xiringada” de água bem no meio dos peitos. Qualquer coisa solta no piso do carro ficava boiando. 
Quando saía com Ana Flávia nesse carro, era um problema – ela toda arrumada, perfumada, mas bastava eu dar uma acelerada, que “empestava” o carro com o cheiro de gasolina. Se ela não andasse com perfume na bolsa, ficava fedendo a noite toda. 
Depois de um conserto no eixo deste possante por um mecânico embriagado numa manhã de sábado, o bicho fica- va fazendo a curva só para um lado. Para o lado direito, ele girava tudo, e para o lado esquerdo, não girava quase nada. Para fazer a curva para esse lado, era um vai e vem da pes- te. E esse serviço foi feito justamente quando eu ia participar do primeiro veraneio com a família de Ana Flávia. Pense numa vergonha. Logo na saída, arranhei o carro nos pilotis do prédio da tia dela, pois não tinha como sair, fazendo a curva só para um lado. 
Tinha uma folga tão miserável no volante, que quando alguém estava de carona e eu fazia uma movimentação exage- rada no volante (só de sacanagem), o carona dizia: ei, né nessa rua que é para entrar não. E eu dizia que não estava fazendo 
a curva não, estava só “aprumando” o volante. A pessoa só faltava fechar os olhos, de tanto medo. 
Outra vez, estacionei na porta de um restaurante, pois era uma comemoração da turma de Odontologia. Na saída, na frente de todo mundo, o sacana não pegou, e juntou uma turma arrumada para empurrar – vergonha total. 
Depois de tanto aperreio, resolvi vender. Ocorre que, depois do anúncio de venda, eu viajei. E meu pai ficou com uma missão inusitada: se o comprador quisesse testar o carro, tinha que dizer a ele para andar devagar e só de um lado da rua (o lado que não tinha buracos), pois a bateria ficava apoiada numa pedaço de madeira, porque a ferrugem já tinha corroído o piso do carro (no fusca, a bateria ficava debaixo do banco do passageiro). 
Perdi o velho companheiro de viagens e de biritas, mas muita gente agradeceu e vibrou após a venda. 
Mas um fusca será sempre um grande companheiro.


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