terça-feira, 17 de novembro de 2020

Poetisa da Rede: Maria de Fátima Soares: SOMBRA E PERFUME:



Deixem-me ser sombra e perfume.

A imagem dupla do  corpo reflectida no chão, p'lo sol.

A que espreita sob os candeeiros, quando à noite se caminha.

Deixem-me ser aquele odor. Tão suave como o da flor.

Quando pelo perfume sabemos...

Que aquele qu' inda não vemos, dentro em breve se avizinha.

Deixem-me ser transparente.

Como as almas, outrora gente, esvoaçam entre nós.

Ser como o pólen, pr'o vento. Das abelhas alimento...

Imperceptível aos olhos, mas aliciante ao nariz.

Uma fragrância querida. Quem sabe também, saudosa.

Uma recordação antiga, como a pétala seca no livro... que ainda cheira a rosa.

Deixem-me ser sombra e perfume.

Como as achas da lareira, são os restos da madeira.

Que docemente nos conforta, em noites frias de outono.

O aroma se propaga, fazendo-nos sentir em casa...

Ainda que sozinho se esteja.

Mas saiba que logo, logo, essa solidão acaba.

@Maria de Fátima Soares

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