domingo, 24 de outubro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:


 
Minos, logo me vendo, iroso brada, Do grave ofício no ato sobrestando:
18 — “Ó tu, que vens das dores à morada;
“Olha como entras e em quem stás fiando: Não te engane do entrar tanta largueza!”
21 — “Por que falar” — meu guia diz — “gritando?”
“Vedar não tentes a fatal empresa: Assim se quer lá onde o que se ordena
24 Se cumpre. Assaz te seja esta certeza!”
Eis já começo da infernal geena A ouvir os lamentos: sou chegado
27 Onde intenso carpir me aviva a pena.
Em lugar de luz mudo tenho entrado: Rugia, como faz mar combatido
30 Dos ventos, pelo ímpeto encontrado.
Da tormenta o furor, nunca abatido, Perpetuamente as almas torce, agita,
33 Molesta, em seus embates recrescido.
Quando à borda do abismo as precipita, Ais, soluços, lamentos vão rompendo.
36 Blasfema a Deus a multidão maldita. Ouvi que estão no padecer horrendo
Os que aos vícios da carne se entregavam,
39 Razão aos apetites submetendo.

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