sábado, 4 de dezembro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:


“Quem seus clamores ouve não duvida: Levantam grita aos termos dois chegados, 
45 Onde oposta os separa a culpa havida:
“Os que então de cabelos despojados Clérigos, papas, cardeais hão sido,
48 Pela nímia avareza subjugados”. —
— “Entre eles” — respondi — “Mestre querido, Muitos serão, por certo, que eu conheça,
51 Imundos desse mal aborrecido”. —
— “Te enganas, quando assim — diz — “te pareça:
Da sua ignóbil vida a oscuridade
54 Vestígio não deixou, que ora apareça:
“Eles se hão de embater na eternidade: Ressurgindo, uns terão as mãos fechadas, 
57 Os outros de cabelos pouquidade.
“Por dar mal, por mal ter, viram cerradas Do céu as portas; penam nesta lida,
60 Com mágoas, que não podem ser contadas.
“Vês quanto é de vaidade iludida
A ambição, em que os homens a porfiam,
63 Da Fortuna anelando os bens na vida.
“Todo o ouro, que as entranhas conteriam Da terra, não pudera dar repouso
66 A um dos que em fadiga se cruciam”. —
— “Quem é Mestre” — falei — “o portentoso Ser, que chamas Fortuna, que à vontade
69 Bens distribui ao mundo cobiçoso?” —
Responde o Vate: — “Ó cega humanidade, Quanta ignorância a mente vos ofende.....

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