NÃO VÁS!
Não vás! Não ainda. Pudesse eu ter o
poder de parar o tempo num abraço, mas contigo o tempo voa. Um abraço, apenas e
só. Mesmo que nada mais houvesse guardar-te-ia num abraço mais apertado, como
aquele tesouro mais precioso que queremos conservar para sempre no coração.
Quero conservar o momento, o toque da pele tão esperado quanto imaginado, o
odor das nossas necessidades e desejos mais básicos e primitivos confundidos
nesse inolvidável instante, no último estertor, no suspiro impossível de
conter, de dois amantes que nunca se
viram e todavia não se esquecem, o gosto do beijo não beijado, o sal dos corpos
suados, da alma e da carne, vazias de sentido. Não vás!, que o amanhã é apenas
uma quimera, uma janela aberta por onde fogem as fantasias cansadas dos sonhos,
num bater de asas rumo à realidade dos dias que passam e das coisas palpáveis.
Houve um tempo em que só querias voar na escuridão protectora do meu quarto,
despida das normas e das regras de uma sociedade que nos castra os impulsos
mais selvagens, vestida de uma fome e de uma sede insaciável de sensações que
nenhuma palavra consegue descrever. Não vás ainda. Fica!, no aconchego
reconfortante e ansiado que ninguém vê, deixa-me despentear-te os cabelos uma
última vez, sentir a tua intimidade numa insanidade só nossa, neste puzzle que
nos completa e disfarça a solidão e a carência dos dias intermináveis.
autor: Miguel Angelo Teixeira
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