quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela: ILUSÃO:







Sinistro como um fúnebre segredo
Passa o vento do Norte murmurando
Nos densos pinheirais;
A noite é fria e triste;
solitário Atravesso a cavalo a selva escura
Entre sombras fatais. 

À medida que avanço, os pensamentos 
Borbulham-me no cérebro, ferventes,
Como as ondas do mar,
E me arrastam consigo, alucinado,
À casa da formosa criatura De meu doido cismar.
Latem os cães; as portas se franqueiam

Rangendo sobre os quícios; os criados
Acordem pressurosos;
Subo ligeiro a longa escadaria,
Fazendo retinir minhas esporas
Sobre os degraus lustrosos.
No seu vasto salão iluminado,

Suavemente repousando o seio
Entre sedas e flores,
Toda de branco, engrinaldada a fronte,
Ela me espera, a linda soberana
De meus santos amores.

Corro a seus braços trêmulo, incendido
De febre e de paixão... A noite é negra,
Ruge o vento no mato;
Os pinheiros se inclinam, murmurando:
- Onde vai este pobre cavaleiro Com seu sonho insensato?...

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