quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Poesia de quinta na Usina: Laurindo Ribeiro: O MEU SEGREDO I:





O lume de sinistro fogo estranho
Que em meu olhar se acende;
A nuvem que de mágoas carregada
No rosto se me estende;

Esta agonia acerba que repassa
Os sons da minha lira;
Este céptico altivo horror ao mundo
Que em tudo meu respira;

Estas rugas, que trago sobre as faces,
Os modos distraídos,
A constante desordem do semblante,
Dos gestos, dos vestidos;
Revela tudo um segredo,

Que o mundo não sabe ler;
Segredo, que só com pranto
É que se pode escrever;
Segredo, que em meu futuro
Negro anátema cuspiu;

Segredo, que seduziu-me;
Segredo que me traiu.
Letras escritas com pranto
Sei que apagadas serão!

Sei que um segredo de mágoas
Nunca merece atenção!
Mas não importa; hoje quero
O meu segredo escrever;
Que guardado por mais tempo
Talvez me faça morrer.

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