Mandado do inferno
Por ímpio destino,
Um gênio mali’no
No berço me viu —
E após um instante
Haver-me encarado
Com gesto irritado,
O Gênio — o meu fado
Traçando — sorriu.
Sorriu-se... e mudados
No mesmo momento
Que o Gênio cruento,
Cruento me viu,
Em negra tristeza,
Meus gostos findaram;
Meus lábios murcharam;
Meus ais começaram;
Meu pranto caiu.
No peito inda verde
Secou-se a ventura
Daquela fé pura
Que a infância nos dá;
No espelho onde via
Em êxtase santo
Os risos, o encanto,
De um mundo, que há tanto
Não sei onde está.
Em dita tão pura
Minh’alma exultava,
E quanto alcançava
Sabia explicar;
Que, além de dar crença
A tudo que ouvia,
Por certa magia,
As cousas que via,
Sentia falar.
Se às vezes tentava
Brincar com as flores,
Revendo os lavores
De um vasto jardim,
A brisa me dava,
No trânsito leve,
Um cântico breve,
Escrito na neve
De um casto jasmim.
Fugaz borboleta
Nas asas de ouro
Imenso tesouro
Deixava-me ver;
E, qual um avaro,
Sedento, inquieto,
Com ardido afeto
Atrás do inseto
Me punha a correr.
Qual boca de ninfa
Há pouco desperta,
Se rosa entreaberta
Prendia louçã,
Segredos da infância
A flor me contava,
Q’eu só escutava,
E, rindo, exclamava: —
Tu és minha irmã!...
À vista do oceano, Imenso, ruidoso,
Que quadro assombroso Fez meu ideal!...
Em êxtase, longo Vi nele espantado,
Rugindo deitado, Um monstro azulado
D’enorme cristal.
Em crua e constante,
Horríssona guerra,
In’migo da terra,
Pintou-se-me o mar —
Que fero co’as ondas
Na praia batia,
E aflito bramia,
Porque não podia
A praia arredar.
Na concha celeste
Se os olhos fitava,
Lá novos achava
Encantos também;
Nos astros eu via
De anjinhos um bando,
Que, o corpo ocultando,
Me estavam olhando
De um mundo de além.
Eu via na lua
A casa encantada,
De luz prateada
Fugindo no ar;
Asilo somente
Da fada querida,
Que vinha escondida
A gente nascida
De noite embalar.
O sol eu amava
Da tarde na hora;
Amava-o d’aurora
No fresco arrebol.
E quando a tais horas
No mar se escondia,
P’ra ele me ria,
Julgando que via
Adeuses do sol.
Em crua e constante,
Horríssona guerra,
In’migo da terra,
Pintou-se-me o mar —
Que fero co’as ondas
Na praia batia,
E aflito bramia,
Porque não podia
A praia arredar.
Na concha celeste
Se os olhos fitava,
Lá novos achava
Encantos também;
Nos astros eu via
De anjinhos um bando,
Que, o corpo ocultando,
Me estavam olhando
De um mundo de além.
Eu via na lua
A casa encantada,
De luz prateada
Fugindo no ar;
Asilo somente
Da fada querida,
Que vinha escondida
A gente nascida
De noite embalar.
O sol eu amava
Da tarde na hora;
Amava-o d’aurora
No fresco arrebol.
E quando a tais horas
No mar se escondia,
P’ra ele me ria,
Julgando que via
Adeuses do sol.
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