NÃO TEM DÓ DO MEU PENAR
A serva ingrata querendo
Mais minha dor aumentar,
Sorrindo bebe meu pranto;
Não tem dó do meu penar.
Para as chagas da minh’alma
Mais dolorosas tornar,
Nas chagas cospe desprezos;
Não tem dó do meu penar.
Zelando a vida que odeia,
Que deseja torturar,
Não mata, sangra as feridas;
Não tem dó do meu penar.
A ingrata, a fementida,
Me jurou constante amar;
Hoje entregue a meu rival
Não tem dó do meu penar.
Esse coração ingrato
Que nada pode abalar,
Petrificando meu pranto
Não tem dó do meu penar.
Das saudades que na ausência
Fizera amor vegetar,
Arranca d’alma as raízes
Não tem dó do meu penar.
O punhal n’alma me enterra
E depois de apunhalar,
Conta as gotas, bebe o sangue;
Não tem dó do meu penar.
Dos olhos que fitos nela
Nunca cessam de chorar,
Sedenta pede mais prantos;
Não tem dó do meu penar.
Nestas veias cujo sangue
Muito cedo há de esgotar,
Injeta o fel do ciúme;
Não tem dó do meu penar.
Com meus ais faço no céu
De dor os astros chorar;
Lília, tão perto de mim,
Não tem dó do meu penar.
Ao ver-me continuamente
De pranto o rosto banhar,
Além de aumentar meu pranto,
Não tem dó do meu penar.
A mesma morte a quem peço
Venha meus dias cortar,
Cruenta foge de mim;
Não tem dó do meu penar.
Em vez de vir compassiva
Minha dor aliviar,
Sorrindo vê o meu pranto;
Não tem dó do meu penar.
Busco às vezes negra noite
Para meu pranto ocultar;
O dia rouba-me as trevas,
Ao ver-me continuamente
De pranto o rosto banhar,
Além de aumentar meu pranto,
Não tem dó do meu penar.
A mesma morte a quem peço
Venha meus dias cortar,
Cruenta foge de mim;
Não tem dó do meu penar.
Em vez de vir compassiva
Minha dor aliviar,
Sorrindo vê o meu pranto;
Não tem dó do meu penar.
Busco às vezes negra noite
Para meu pranto ocultar;
O dia rouba-me as trevas,
Não tem dó do meu penar.
De males furor insano
Sobre ti vá me vingar,
Já que tu, traidora ingrata,
Não tem dó do meu penar.
De males furor insano
Sobre ti vá me vingar,
Já que tu, traidora ingrata,
Não tem dó do meu penar.
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