Todas no pranto acerbo, em que se afligem, Se acolhem juntas ao lugar tremendo,
108 Dos maus destinos, que se não corrigem.
Caronte, os ígneos olhos revolvendo, Lhes acenava e a todos recebia:
111 Remo em punho, as tardias vai batendo.
Como no outono a rama principia As flores a perder té ser despida,
114 Dando à terra o que à terra pertencia,
Assim de Adam a prole pervertida, Da praia um após outro se enviavam, 117 Qual ave dos reclamos atraída.
Sobre as túrbidas águas navegavam; E pojado não tinham no outro lado,
120 Mais turbas já no oposto se apinhavam.
“Aqui meu filho” — disse o Mestre amado — “concorrem quantos há colhido a morte,
123 De toda a terra, tendo a Deus irado.
“O rio prontos buscam desta sorte,
De Deus tanto a justiça os punge e excita,
126 Tornando-se o temor anelo forte!
“Alma inocente aqui jamais transita, E, se Caronte contra ti se assanha,
129 Patente a causa está, que tanto o irrita”.
Assim falava; a lúrida campanha Tremeu e foi tão forte o movimento,
132 Que do medo o suor ainda me banha.
Da terra lacrimosa rompeu vento, Que um clarão respirou avermelhado; Tolhido então de todo o sentimento,
l36 Caí, qual homem que é do sono entrado.
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