Eis vejo a nós em barca se acercando,
De cãs coberto um velho — “Ó condenados,
84 Ai de vós! — alta grita levantando.
“O céu nunca vereis, desesperados:
Por mim à treva eterna, na outra riva,
87 Sereis ao fogo, ao gelo transportados.
“E tu que estás aqui, ó alma viva,
De entre estes que são mortos, já te ausenta!”
90 Como não lhe obedeço à voz esquiva,
“Por outra via irás” — ele acrescenta
87 Sereis ao fogo, ao gelo transportados.
“E tu que estás aqui, ó alma viva,
De entre estes que são mortos, já te ausenta!”
90 Como não lhe obedeço à voz esquiva,
“Por outra via irás” — ele acrescenta
— “Ao porto, onde acharás fácil transporte;
93 Lá pássaras sem barca menos lenta”. —
“Não te agastes, Caronte! Desta sorte
Se quer lá onde” — disse-lhe o meu Guia —
96 “Quem pode ordena. E nada mais te importe”.
Sereno, ouvido, o gesto se fazia Da lívida lagoa ao nauta idoso,
99 Quem em círculos de fogo olhos volvia.
As desnudadas almas doloroso
O gesto descorou; dentes rangeram
102 Logo em lhe ouvindo o vozear raivoso.
Blasfemaram de Deus e maldisseram
A espécie humana, a pátria, o tempo, a origem
105 Da origem sua, os pais de quem nasceram.
“Não te agastes, Caronte! Desta sorte
Se quer lá onde” — disse-lhe o meu Guia —
96 “Quem pode ordena. E nada mais te importe”.
Sereno, ouvido, o gesto se fazia Da lívida lagoa ao nauta idoso,
99 Quem em círculos de fogo olhos volvia.
As desnudadas almas doloroso
O gesto descorou; dentes rangeram
102 Logo em lhe ouvindo o vozear raivoso.
Blasfemaram de Deus e maldisseram
A espécie humana, a pátria, o tempo, a origem
105 Da origem sua, os pais de quem nasceram.
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